Estudo da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostra
que em prazos mais prolongados, o medicamento industrial cinarizina pode
atuar no sistema termorregulador do organismo (que mantém a pessoa a
uma temperatura interna quase constante). A substância também se
mostrou eficaz no tratamento de sintomas como insônia, irritação,
vertigem e ondas de calor de mulheres no período climatérico —fase de
transição do período reprodutivo para um período não fértil — que não
podem receber tratamento hormonal, entre elas, pessoas que já
apresentaram câncer de mama.
De acordo com o ginecologista Pérsio Yvon
Adri Cezarino, autor da pesquisa, “ a vertigem foi o sintoma climatérico
que durante a pesquisa teve a melhora mais significativa entre as
pacientes que receberam o medicamento”.
A droga já é utilizada em tratamentos de vertigem e dores de cabeça
por otorrinos, oftalmos e neurologistas atua como um vasodilatador, ou
seja, promove a diltação de vasos sanguíneos e auxilia no tratamento da
circulação sanguínea insuficiente em casos de acidente vascular cerebral
(AVC). O estudo de mestrado Cinarizina no tratamento dos sintomas climatéricos foi apresentado na FMUSP, sob a orientação do professor Vicente Renato Bagnoli.
O estudo analisou 62 pacientes atendidas no Setor de Ginecologia
Endócrina e Climatério do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, com
idade entre 45 e 60 anos e predomínio da manifestação de fogachos no
período climatérico, ondas de calor que variam de três a seis minutos e
causam súbita vermelhidão do rosto da mulher, além de uma intensa
sensação de calor no corpo e transpiração. “Este sintoma acontece porque
durante o climatério, caem as taxas de estrogênios no organismo da
mulher o que provoca um descontrole do sistema termorregulador podendo
haver aumentos súbitos de temperatura, seguidos de calafrios. As
manifestações acontecem com maior frequencia durante a noite,
ocasionando insônia, fadiga e perda da qualidade de vida da mulher”,
descreve o médico.
Grupos
As pacientes foram divididas em dois grupos. Um deles, foi denominado
grupo “S” e composto por 27 mulheres com faixa etária média de 53,9
anos, sendo 51,9% brancas e 48,1% negras. O outro, chamado “M”, com 35
pacientes que tinham em média 54,7 anos e era formado por 51,4% brancas e
48,6% negras.
O grupo S recebeu 25 miligramas (mg) de Cinarizina a cada
12 horas, via oral e por 6 meses. Por sua vez, ao grupo M foi
ministrado um comprimido de placebo, substância
inerte ou inativa, a que se atribui certas propriedades (como as de
cura de uma doença) e que, ingerida, pode produzir um efeito que suas
propriedades não possuem — a cada 12 horas, via oral e
também por seis meses. A escolha do tratamento foi feita pela
metodologia de estudo duplo cego e randomizado em
que pacientes foram distribuidas por sorteio no grupo e na medicação
onde o pesquisador não interfere no trabalho e no desfecho (resultado).
Nem o médico, nem a paciente saberia indicar até o fim da pesquisa quem
recebeu o medicamento ou o placebo.
Todas as mulheres envolvidas na pesquisa foram submetidas a um exame
físico geral em que foram extraídos dados como peso, altura e pressão
arterial. Além disso, para obtenção de outras informações o médico
utilizou como base o Índice Menopausal de Kupperman (IMK) que verifica a
intensidade de 11 sintomas proporcionados à mulher neste período, como
fadiga, fraqueza, dores de cabeça, insônia e nervosismo, mas não
considera, no entanto, como ele mesmo explica, “uma análise da vida
sexual da paciente como secura vaginal e diminuição da libido”. Neste
sistema a própria mulher atribui uma pontuação que pode variar entre
leve, moderada e acentuadas para cada uma das manifestações. O
questionário foi aplicado por duas vezes, no começo e após seis meses do
início do tratamento.
A análise dos resultados demonstrou que houve melhora significativa,
em ambos os grupos, de todos os sintomas climatéricos com execeção da
artralgia (dores nas articulações) e da mialgia (dores musculares) no
grupo S e da vertigem no grupo M. O ginecologista, entretanto, diz que
“um estudo mais prolongado do efeito da droga em pacientes em climatério
seria adequado para a verificação de resultados em um prazo mais longo,
uma vez que, apenas entre o quarto e o sexto mês da pesquisa foi
possível notar melhoras das pacientes em relação às vertigens.
Fonte: Sandra O. Monteiro - USP Notícias
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