quarta-feira, 18 de junho de 2014

Sono ajuda a consolidar e fortalecer novas memórias

Um importante estudo publicado em 05/06/2014, na Revista Science, fornece evidências físicas de que o sono ajuda a consolidar e fortalecer novas memórias. Intitulado Sleep promotes branch-specific formation of dendritic spines after learning, o artigo foi produzido a partir das pesquisas desenvolvidas no NYU Langone Medical Center, em Nova Iork, EUA.

Os pesquisadores mostram, pela primeira vez, que dormir depois da aprendizagem incentiva o crescimento de espinhas dendríticas, as pequenas saliências dos neurônios que se conectam a outras células cerebrais e facilitam a passagem de informação através das sinapses.

Os resultados em camundongos mostram, de forma inédita, como a aprendizagem e o sono causam mudanças físicas no córtex motor, uma região do cérebro responsável por movimentos voluntários.

"Sabemos há muito tempo que o sono desempenha um papel importante na aprendizagem e na memória. Se você não dorme bem, você não vai aprender também ", diz o pesquisador sênior Wen Biao-Gan, PhD, professor de neurociência e fisiologia e membro do Instituto Skirball de Medicina Biomolecular no NYU Langone Medical Center. "Mas qual é o mecanismo físico subjacente responsável por esse fenômeno? Aqui nós mostramos como o sono ajuda os neurônios a formar conexões muito específicas em ramos dendríticos que podem facilitar a memória de longo prazo. Mostramos também como os diferentes tipos de aprendizagem formam sinapses em diferentes ramos dos mesmos neurônios, sugerindo que a aprendizagem provoca mudanças estruturais muito específicas no cérebro".

A figura abaixo mostra as espinhas dendríticas antes do treinamento e 24 horas após.


Em nível celular, o sono não é nada tranquilo: As células do cérebro que são ativadas enquanto nós absorvemos novas informações durante as horas de vigília,  repetem essa ação durante o sono profundo, quando as ondas cerebrais desaceleram. Os cientistas há muito acreditam que esta repetição noturna nos ajuda a formar novas memórias e recordar, no entanto, as mudanças estruturais que sustentam este processo permanecem pouco compreendidos.

Para lançar luz sobre esse processo, Dr. Gan e colegas utilizaram camundongos geneticamente modificados para expressar uma proteína fluorescente nos neurônios. Usando um microscópio de varredura a laser especial que ilumina as proteínas fluorescentes brilhantes no córtex motor, os cientistas foram capazes de rastrear e imagear o crescimento de espinhas dendríticas ao longo dos ramos individuais dos dendritos antes e depois ratos aprenderam a se equilibrar em uma roda de corrida. Com o tempo, os animais aprenderam a se equilibrar na roda, pois gradualmente girava mais rápido. "É como aprender a andar de bicicleta", diz o Dr. Gan. "Uma vez que você aprende, você nunca esquece."

Depois de documentar que nos camundongos, de fato, brotam novas espinhas dendríticas ao longo dos ramos, dentro de seis horas após o treinamento na roda de corrida, os investigadores queriam entender como o sono teria impacto nesse crescimento físico. Eles treinaram dois grupos de animais:

1- Treino na roda girando por uma hora e, em seguida, dormiram durante 7 horas;

2- Treino pelo mesmo período de tempo na roda, mas ficaram acordados durante 7 horas.


Os cientistas descobriram que os animais privados de sono experimentaram significativamente menos crescimento de espinhas dendríticas do que os que estavam bem descansados. Além disso, o tipo de tarefa aprendida determinou quais ramos de espinhas dendríticas iriam crescer.

Correr para frente sobre a roda, por exemplo, produziu o crescimento de espinhas em ramos dendríticos diferentes dos que correram para trás, o que sugere que a aprendizagem de tarefas específicas provoca modificações estruturais específicas do cérebro.

"Agora sabemos que quando aprendemos algo novo, um neurônio vai aumentar novas conexões em um ramo específico," diz o Dr. Gan. "Imagine uma árvore que aumenta as folhas em um ramo mas não em outro. Quando aprendemos algo novo, é como se estivéssemos fazendo brotar folhas em um ramo específico".

Finalmente, os cientistas mostraram que as células cerebrais no córtex motor que são ativadas quando os camundongos aprendem uma tarefa reativam durante o sono profundo. Perturbar este processo, impede o crescimento de espinhas dendríticas. Seus resultados oferecem uma informação importante sobre o papel funcional da repetição - o processo pelo qual o cérebro dormindo ensaia tarefas aprendidas durante o dia - observado no córtex motor.
"Nossos dados sugerem que a reativação neuronal durante o sono é muito importante para o crescimento de conexões específicas dentro do córtex motor," Dr. Gan acrescenta.



Agora está mais que evidente a importância de uma noite bem dormida para um aprendizado eficaz.

Forte abraço e bons estudos! Ah, e bom sono também!


sexta-feira, 13 de junho de 2014

A melhor parte da Copa do Mundo e que pouca gente viu

 A tão esperada demonstração do andar de um paraplégico utilizando a interface cérebro-máquina (ICM) na abertura da Copa do Mundo durou apenas poucos segundos e quase ninguém viu. Uma lástima!

Juliano Pinto, 29 anos, foi o escolhido para chutar a bola. Ele tem paraplegia completa de tronco inferior e membros inferiores. "Sempre existe um caminho e sempre existe esperança para aquele que acredita e para aquele que sonha", disse, após dar o pontapé.

Mais de 156 pesquisadores de vários países integraram um consórcio responsável pela investigação científica, liderado pelo brasileiro Miguel Nicolelis, professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal – Edmond e Lily Safra (IINN-ELS).

Veja abaixo figura retirada do site G1.com.br para explicar com funciona a ICM.

Infográfico - Veja como funciona o exoesqueleto que vai possibilitar que jovem dê pontapé inicial da Copa do Mundo (Foto: Infográfico)

Um experimento tão fantástico que poderá, num futuro não tão distante, revolucionar os tratamentos de pacientes paralisados. Uma nova forma de ver a neurociência, que parece ficção científica, mas é realidade. E recebe menos de 10 segundos na abertura da Copa?

Depois, muitas pessoas ainda se perguntam:
 
"Por que grande parte dos cientistas vai atuar no exterior?" 
"Por que as nossas crianças não se interessam por ciência?"
 

domingo, 1 de junho de 2014

Como a esquizofrenia pode alterar as percepções


         A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. A pessoa pode ficar com o olhar perdido, indiferente a tudo o que se passa ao redor ou, os exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios. Ela ouve vozes que ninguém mais escuta e imagina estar sendo vítima de um complô tramado com o firme propósito de destruí-la. Não há argumento que a convença do contrário.

  

          Antigamente, esses indivíduos eram colocados em sanatórios para loucos, porque pouco se sabia a respeito da doença. No entanto, nas últimas décadas, houve grande avanço no estudo e tratamento da esquizofrenia que, quanto mais precocemente for tratada, menos danos trará aos doentes.

PRINCIPAIS SINTOMAS

         Há, basicamente, dois tipos de sintomas: os produtivos e os negativos. Os sintomas produtivos são os delírios e as alucinações. O delírio caracteriza-se por uma visão distorcida da realidade. O mais comum, na esquizofrenia, é o delírio persecutório. O indivíduo acredita que está sendo perseguido e observado por pessoas que tramam alguma coisa contra ele. Imagina, por exemplo, que instalaram câmeras de vídeo em sua casa para descobrirem o que faz a fim de prejudicá-lo. As alucinações caracterizam-se por uma percepção que ocorre independentemente de um estímulo externo. Por exemplo: o doente escuta vozes, em geral, as vozes dos perseguidores, que dão ordens e comentam o que ele faz. São vozes imperativas que podem levá-lo ao suicídio, mandando que pule de um prédio ou de uma ponte.

        No outro extremo, estão os sintomas negativos da doença, mais resistentes ao tratamento, e que se caracterizam por diminuição dos impulsos e da vontade e por achatamento afetivo. Há a perda da capacidade de entrar em ressonância com o ambiente, de sentir alegria ou tristeza condizentes com a situação externa.

ORIENTAÇÃO AOS FAMILIARES E PACIENTES
       
       A primeira medida é esclarecer a família sobre as características da doença. Ela precisa entender que, se por acaso o paciente teve um surto de nervosismo ou agressividade (o que é raro em esquizofrenia), não se trata de mau caratismo ou maldade. Ele tem uma doença orgânica como qualquer outra, uma doença neuroquímica da qual é muito mais vítima do que agente malfeitor.
 
         Essa informação ajuda a família a compreender melhor o problema e as necessidades do doente. Em um terço dos casos, mesmo a psicose desaparecendo, fica uma pequena sintomatologia residual. A pessoa não volta mais a ser a mesma. Permanece a diminuição dos impulsos e ela não consegue mais dar conta do que fazia antes. Por isso, muitas vezes, é preciso baixar as expectativas em relação ao portador de esquizofrenia. Esse é um fator que pode até ser medido em questionários conhecidos como “Emoções Expressas da Família”. Trabalhos mostram que, quando se reduz a pressão familiar, melhora o prognóstico e diminui o número de recaídas.

          Louis Wain (1860-1939) foi um artista britânico que tinha esquizofrenia e, através de seus desenhos de gatos, representou claramente a sua progressiva fuga da realidade para a fantasia.

Wain, desde jovem, costumava pintar retratos de gatos para calendários, álbuns, cartões-postais, etc. Aos 57 anos, sua vida e sua arte apresentavam sintomas de psicose. Passou os últimos 15 anos da vida em instituições psiquiátricas. Os retratos dos gatos que pintava, tomaram uma forma ameaçadora. Reveladores de seu estado psicótico são os olhos dos gatos, que miram fixamente com hostilidade, mesmo num de seus primeiros desenhos desta fase.

Observem como eram os seus desenhos antes do diagnóstico de esquizofrenia:


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E após a instalação e cronificação da doença:

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Fonte: http://drauziovarella.com.br/letras/e/esquizofrenia/
psiconlinebrasil.blogspot.com.br

Consulte os sites acima para mais detalhes.